sexta-feira, 17 de junho de 2011

Black Alien: rap e surrealismo

A René Magritte

Um rapper brasileiro, ex-integrante da banda Planet Hemp, em um gesto freudiano de reversão do tabu em totem assumiu para si a condição de alienígena, autodenominando-se Black Alien. Na impossibilidade de inverter a marca estereotípica que repousava sobre seus caracteres corpóreos (nesse caso fenotípicos), em um jogo escópico ao qual estava submetido e que o fixava desde criança como diferença inferiorizada, esse músico põe em suspenso a designação pejorativa que o afligia, e, claro, as atitudes que como conseqüência vinham com ela, para assumir-se de forma reversa como, assombrosamente, O Outro. Vale salientar aqui a força desconstrutora dessa ação sofisticada que convoca os espectros do unheimlich, possibilitando que esse sujeito se desconheça, para, só assim, lidar com toda a força que produziu em sua vida um poderoso recalque de seus traços étnicos em seu processo de subjetivação e que, agora, como o estranho freudiano, emergem aparentemente como des-conhecidos.Como o surrealista René Magritte provoca a fissura em seus quadros entre as palavras e as coisas, esse rapper grafa, grifa e grafita sobre o corpo a mesma senha que obriga o observador de arte a suspeitar da representação pictórica que ele crê ver nas telas do pintor belga. Em um quadro de Magritte, por exemplo, que traz a imagem de um cachimbo (?) seguido da inscrição “Ceci nést pas une pipe” (Isto não é um cachimbo) o pintor desafia de forma suicida a própria representação, ainda que esta seja o sustento de toda uma teoria mimética legitimadora das artes desde Aristóteles. Ora, tanto no gesto do pintor quanto do rapper, a provocação repousa na desconstrução da lógica do sentido, a qual, através de sua relação imediata, aparentemente natural, entretanto etnofalologocêntrica, aprisiona os sujeitos a formas prévias de significação, nada neutras, diga-se de passagem. É contra essa mesma força paralisante e perigosa que se erige boa parte dos escritos de Giles Delleuze, Michel Foucault e Jacques Derrida, só para citar alguns dos chamados filósofos da desconstrução. Ambos os procedimentos, o de Magritte e o de Black Alien, exigem a deseducação de um sistema tradicional de deciframento para que o quadro e mesmo o nome do rapper possam, libertos, enfim funcionar como uma superfície plurissignificante. Em suma, não há desafio mais dilacerante na contemporaneidade do que assumir-se como O Outro, pois o alien, acima de tudo, é aquele que está alheio a, que escapa a toda uma lógica de normalização do olhar, do corpo, transitando fraturado por entre suas identificações fluidas… O alien não pode ser facilmente aprisionado, nem completamente entendido (ele está fora de si) e eis aí a sua potência como alteridade, a qual, mesmo que, muitas vezes, silenciosa, rasura de forma interminável a superfície invisível das relações sociais e de um sistema ortodoxo de construção do saber. Além disso, ele representa, indubitavelmente, o maior desafio para a humanidade, ainda que não “seja” demasiadamente humano, ou não seja historicamente construído como tal…Como educadores, creio que o nosso maior desafio não se coloca apenas em amar o alien (entenda-se por alien toda a alteridade, ainda que aqui eu esteja destacando apenas uma dessas formas alienígenas), mas sim em compreendê-lo na e contra a paisagem gris em que ele se soergue. Tarefa, com certeza, nada fácil, para nenhum de nós.

Por Henrique Freitas

Marcha da Liberdade Salvador

A Marcha irá se concentrar em frente ao TCA no CAMPO GRANDE as 14:00 do sábado 18 de junho.
A liberdade de expressão é o chão onde todas as outras liberdades serão erguidas:
De credo, de assembléia, de amor, de posições políticas, de orientações sexuais, de cognição, de ir e vir… e de resistir.

E é por isso que convocamos qualquer um que tenha uma razão para marchar, que se junte a nós no sábado para a primeira #MarchadaLiberdade.

Ciclistas, peçam a legalização da maconha… Maconheiros, tragam uma bandeira de arco-íris… Gays, gritem pelas florestas… Ambientalistas, tragam instrumentos… Artistas de rua, falem em nome dos animais… Vegetarianos, façam um churrasco diferenciado… Venham de bicicleta… Somos todos cadeirantes, pedestres, motoristas, estudantes, trabalhadores… Somos todos idosos, pretos, travestis… Somos todos nordestinos, bolivianos, paulistanos, vira-latas.
E somos livres!

Bicicletada Massa Crítica

Na última sexta-feira de cada mês, a partir de 18:30hs, acontece a BICICLETADA MASSA CRÍTICA, que realiza um passeio ciclístico por ruas da cidade como promoção da bicicleta enquanto meio de transporte sustentável e defesa de políticas públicas que visem a adequação do sistema viário a esta forma de locomoção.
No mês de Junho, excepcionalmente, ela ocorrerá  em Salvador no dia 17 de junho, em virtude do feriado junino.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O agenciamento (Gilles Deleuze)

O agenciamento A unidade real mínima não é a palavra, a idéia ou o conceito; nem o significante, mas o agenciamento. É sempre um agenciamento que produz os enunciados. Os enunciados não têm por causa um sujeito que agiria como sujeito da enunciação, principalmente porque eles não se referem aos sujeitos como sujeitos do enunciado. O enunciado é o produto de um agenciamento, sempre coletivo, que põe em jogo, em nós e fora de nós, as populações, as multiplicidades, os territórios, os devires, os afetos, os acontecimentos. O nome próprio não designa um sujeito mas qualquer coisa que se passa, pelo menos entre dois termos que não são sujeitos, mas agentes, elementos. Os nomes próprios não são nomes de pessoas, mas de povos e tribos, de faunas e de floras, de operações militares e tufões, de coletivos, de sociedades anônimas e escritórios de produção. O autor é um sujeito da enunciação mas não o escritor, que não é um autor. O escritor inventa os agenciamentos a partir de agenciamentos que se inventaram, ele faz passar uma multiplicidade na outra. O difícil é fazer conspirar todos os elementos de um conjunto não homogêneo, os fazer funcionar juntos. As estruturas estão ligadas às condições de homogeneidade mas não os agenciamentos. O agenciamento é o co-funcionamento, é a "simpatia", a simbiose. [p.65]

(...) O que é um agenciamento ? É uma multiplicidade que comporta muitos termos heterogêneos e que estabelece ligações, relações entre eles, através das idades, sexos, reinos - de naturezas diferentes. Assim, a única unidade do agenciamento é o co-funcionamento: é a simbiose, uma "simpatia". [p.84]


Extrato de Gilles Deleuze e Claire Parnet: Diálogos. Paris, Flammarion, 1996. Trad. CMF.

Início das atividades do Agenciamento Coletivo

No dia 14 de Junho de 2011, como consequencia do curso oferecido pelo professor Roberto Machado (UFRJ), um grupo de professores e estudantes reuniu-se para formar o Agenciamento Coletivo como articulação rizomática de projetos de pesquisa em torno do pensamento crítico e afirmativo da diferença, da desconstrução e da singularidade que se desenvolveu a partir dos textos de Nietzsche, Foucault, Deleuze, Guattari e Derrida.

Foram propostos estudos transdisciplinares e ações micropolíticas articuladas com as perspectivas desses autores, a começar pelo encontro introdutório e preparatório para a discussão da obra Ecce Homo, de F. Nietzsche, no dia 01 de Agosto, a partir de 14hs, no Istituto de Letras da UFBA.

Ainda foi proposta a realização de um simpósio em data próxima ao aniversário de nascimento de Nietzsche e Foucault, que se dá no dia 15 de Outubro.

Participaram desse primeiro encontro:
Prof. Henrique Freitas
Profa. Lívia Natália Santos
Profa. Denise Carrascosa
Prof. Ivan Maia de Mello
e os estudantes Carina Cerqueira e Fábio Silva.

Assim lançamos no mar do devir a nau Agenciamento Coletivo com essa tripulação provisória.
Saudações singularizantes!